Um homem qualquer
O homem estava de olhos perdidos na tela do computador, viu que era preciso espairecer lá fora, por corredores e pátios afora. Saiu. O estupor de calor que sentiu quando deixou pra trás a sala refrigerada não arrefecia a espécie de dor que congelava a sua alma e quase o paralisava. Viu uns e outros e esboçava um sorriso obrigatório. Tudo pesava as medida de uma grande angústia.
A mulher que cuidava de fazer limpeza do corredor – tudo indicava ser sua amiga – pediu-lhe um abraço. Abraçaram-se incomum. Ele se apertava às carnes fofas dela longamente. Falaram-se. Ela contou-lhe de câncer e de enterros e do fardo de doenças e falou também de gente impiedosa. Ele foi ouvidos. Disse apenas que era a vontade de Deus. “Ele sabe o que faz”. Ela assentiu e agradeceu pelo abraço. Ele continuou pátio afora padecendo dos infortúnios do desamor, sentindo-se numa ilha distante e fria, mas bem nos trópicos, no coração do país. Viu ao longe o que pareceu uma garça voando alta e placenta rio abaixo, acima do ângulo de visão que seus olhos estiveram naquela tarde - era de uma brancura que ele pensara que nunca vira antes. Ele nem percebeu que no voo da garça havia um céu plúmbeo ao fundo. A garça voava num dia sem sol.
O Homem viu graça na sua dor emocional. Ele era um homem qualquer!